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domingo, 4 de setembro de 2011

Conto de Arthur C. Clarke:Recordo a Babilônia

Meu nome é Arthur C. Clarke, e desejaria não ter relação alguma com todo este sórdido assunto. Mas como a integridade moral, repito, moral, dos Estados Unidos está comprometida, primeiro devo mostrar meus créditos. Só assim compreenderão vocês como, com a ajuda do defunto doutor Alfred Kinsey, provoquei involuntariamente uma avalanche que pode varrer com grande parte da civilização ocidental.
Lá em 1945, sendo operador de radar na Real Força Aérea, tive a única idéia original de minha vida. Doze anos antes que o primeiro Sputnik começasse a emitir sinais, me ocorreu que um satélite artificial seria um lugar maravilhoso para transmitir televisão, pois uma estação a vários milhares de quilômetros de altura poderia radiar para a metade do globo. Escrevi a idéia na semana posterior a Hiroshima, propondo uma rede de satélites de retransmissão a trinta e cinco mil quilômetros por cima do Equador; a essa altura demorariam exatamente um dia em completar uma revolução, e assim permaneceriam fixos sobre o mesmo ponto da Terra.
Esse trabalho apareceu no Wireless World no número de outubro de 1945; como não esperava que os instrumentos espaciais chegassem a ser comercializados durante minha vida, não tentei patentear a idéia; de todas as formas, duvido que tenha podido fazê-lo. (Se estou equivocado, preferiria não sabê-lo.)
Mas continuei inserindo-a em meus livros e hoje em dia a idéia de satélites de comunicação é tão comum que ninguém conhece sua origem. Fiz um dolorido intento de elucidação quando fui abordado pelo Comitê de Astronáutica e Exploração Espacial da Câmara de Representantes; vocês encontrarão meu testemunho na página trinta e dois de seu relatório “Os próximos dez anos no espaço”. E, como vocês verão em seguida, minhas últimas palavras tinham uma ironia que não pude apreciar no momento:
 “Vivendo como vivo no Longínquo Oriente, constantemente tenho à vista a luta entre o Mundo Ocidental e a URSS pelos milhões não comprometidos da Ásia... Quando as transmissões de televisão via satélite forem possíveis, o efeito propagandístico pode ser decisivo...”
Ainda penso o mesmo, mas havia ângulos que eu não previ... e que outras pessoas, desgraçadamente o fizeram.
Tudo começou em uma dessas recepções oficiais tão características da vida social nas capitais asiáticas. São mais comuns ainda no Ocidente, é obvio, mas no Colón não há muita competência de entretenimentos. Pelo menos uma vez por semana, se a gente for alguém, recebe um convite para coquetéis em uma embaixada ou legação, o Conselho Britânico, a Missão de Operações dos EE.W., L'Alliance Française, ou uma das incontáveis agências alfabéticas engendradas pelas Nações Unidas.
No princípio, nos sentindo mais cômodos sob o Oceano Índico do que em círculos diplomáticos, meu sócio e eu fomos pessoas insignificantes, e nos deixavam em paz. Mas logo depois que Mike apadrinhou a excursão do Dave Brubeck no Ceilão, toda a gente começou a fixar-se em nós. E mais ainda quando Mike desposou uma das beldades mais conhecidas da ilha. De modo que agora nossa consumação de coquetéis e canapés está limitada principalmente pelo rechaço a abandonar nossos cômodos sarongs por absurdos ocidentais como calças, smokings e gravatas.
Era a primeira vez que íamos à Embaixada Soviética, que dava uma festa para um grupo de oceanógrafos russos que acabavam de chegar ao porto. Sob os inevitáveis retratos do Lênin e Marx, um par de centenas de convidados de todas as cores, religiões e idiomas, formavam redemoinhos falando com amigos, ou atacando obsessivamente a vodca e o caviar. Eu estava separado de Mike e Elizabeth, mas os via o outro lado da sala. Mike fazia seu ato de “Ali estava eu a cinqüenta braças” frente a um auditório fascinado, enquanto Elizabeth o olhava enigmaticamente... e mais gente ainda olhava para Elizabeth.
Desde que perdi um tímpano procurando pérolas na Grande Barreira de Coral, vejo-me em desvantagem nestas reuniões; o ruído de superfície é uns doze decibéis mais alto do que eu posso dominar. E isso não é pouca desvantagem quando nos apresentam alguém com nomes como Dharmasiriwardene, Tissaveerasinghe, Goonetilleke, e Jayawickrema. Portanto, quando não estou assaltando o bufê, procuro um lugar relativamente tranqüilo, onde tenha alguma possibilidade de seguir mais de cinqüenta por cento de qualquer conversação em que pudesse ver-me metido. Estava dentro da sombra acústica de uma enorme coluna, estudando a cena com meu ar de indiferença tipo Somerset Maugham, quando notei que alguém me olhava com essa expressão de “Não nos vimos antes?”
O descreverei com algum cuidado, porque deve haver muita gente que pode identificá-lo. Tinha trinta e tantos anos, e supus que era norte-americano. Mostrava o esmero, o corte de cabelo, o ar do homem acostumado a andar pelo Rockfeller Center; essa aparência que era marca de pureza até que os diplomáticos jovens e os conselheiros técnicos russos começaram a imitá-la com tanto êxito. Media um metro e oitenta, tinha ardilosos olhos castanhos e cabelo negro, prematuramente cinza nas têmporas. Embora eu estivesse bastante seguro de que não nos tínhamos encontrado nunca antes, seu rosto recordava alguém. Demorei um par de dias em me dar conta de quem: recordam o defunto John Garfield? Era tão parecido que quase não havia diferença.
Quando um estranho me chama a atenção em uma festa, meu procedimento clássico entra em ação automaticamente. Se parece uma pessoa agradável, mas não tenho desejos de conhecê-la no momento, uso com ela o “Olhar Neutro”, deixando que minha vista a percorra rapidamente sem uma piscada de reconhecimento, embora não com verdadeira hostilidade. Se parecer um louco, recebe o Coup d'oeil, que consiste em um largo olhar de incredulidade, seguido de uma visão sem pressa de minha nuca. Em casos extremos se pode adicionar uma expressão de asco durante uns milésimos de segundo.
Geralmente a mensagem chega.
Mas este personagem parecia interessante e eu me estava aborrecendo, assim lhe ofereci a “Saudação Afável”. Minutos depois se aproximou entre as pessoas e eu voltei para ele meu ouvido são.
— Olá — disse (sim, era norte-americano) — meu nome é Gene Hartford. Estou seguro de que nos encontramos antes.
— É muito possível — respondi. — passei muito tempo nos Estados Unidos. Sou Arthur Clarke.
Em geral isso produz um olhar vazio, mas algumas vezes não. Quase pude ver as fichas IBM revoando atrás desses duros olhos pardos, e me adulou sua rapidez.
— O escritor de ciência?
— Assim é.
— Bom, isto é extraordinário. — Parecia genuinamente surpreso. — Agora sei onde o vi. Foi uma vez no estúdio, quando você estava no programa do Dave Garroway.
(Poderia valer a pena seguir esta pista, embora o duvidasse; e estou seguro de que esse “Gene Hartford” era falso; era muito artificial.)
— Então você está na televisão? — perguntei-lhe. — O que faz aqui? Recolhe material, ou simplesmente está de férias?
Brindou-me o sorriso franco e amistoso do homem que tem muito para esconder.
— Oh, mantenho os olhos abertos. Mas isto é surpreendente. Li seu livro A exploração ao espaço quando saiu em... é...
— Em cinqüenta e dois; o Clube do Livro do Mês nunca voltou a ser o mesmo depois.
Todo esse tempo estive tratando de julgá-lo, e embora houvesse algo nele que não me agradava, não pude saber bem o que era. De toda forma, eu estava disposto a fazer grandes concessões a uma pessoa que tinha lido meus livros e que, além disso, trabalhava na televisão; Mike e eu sempre estamos procurando negociações para nossos filmes submarinos. Mas essa, para dizê-lo brandamente, não era a linha de negócios do Hartford.
— Olhe — disse ansiosamente — estou trabalhando em um assunto importante para uma cadeia de televisão que lhe interessará; na realidade, você ajudou a me dar a idéia.
Isto soava prometedor, e meu coeficiente de avareza saltou vários pontos.
— Me alegro. Do que se trata?
— Não posso discuti-lo aqui. O que lhe parece se nos encontramos em meu hotel, amanhã às três?
 — Me deixe ver a agenda; sim, está bem.
No Colón há somente dois hotéis freqüentados por norte-americanos e acertei na primeira vez. Estava no Mount Lavinia e, embora possivelmente vocês não saibam, viram o lugar onde tivemos nosso bate-papo privado. Perto da metade da ponte sobre o rio Kwait há uma breve cena em um hospital militar, onde Jack Hawkins conhece uma enfermeira e lhe pergunta onde pode encontrar Bill Holden. Temos uma fraqueza por este episódio, porque Mike era um dos oficiais navais convalescentes que se vêem no fundo. Se olharem atentamente, o verão na extrema direita, com barba, em pleno perfil, assinando com o nome do Sam seu Spiegel na sexta volta de bar. Tal como aconteceu no filme, Sam podia permitir-lhe isso. Foi aqui, nesta mesinha diminuta, sobre as praias rodeadas de palmeiras, que Gene Hartford começou a falar... e minhas ingênuas esperanças de benefícios financeiros começaram a evaporar-se. Quanto aos motivos de Gene Hartford, se é que ele mesmo os conhecia, ainda não estou seguro. A surpresa de me encontrar e um equivocado sentimento de gratidão (do qual eu teria prescindido com alegria) jogaram indubitavelmente seu papel, e apesar de todo seu ar de confiança deve ter sido um homem amargurado e só que necessitava desesperadamente de aprovação e amizade.
De mim não obteve nenhuma dessas coisas. Sempre tive algo de compaixão pelo Benedict Arnold, como deve tê-la qualquer um que conheça todos os aspectos do caso. Mas Arnold só traiu ao seu país; ninguém, antes do Hartford, tratou de seduzi-lo.
O que desvaneceu meus sonhos de dólares foi a notícia de que a conexão do Hartford com a televisão norte-americana havia se quebrado, algo violentamente, no princípio da década de cinqüenta. Estava claro que o tinham jogado da Avenida Madison por filiar-se ao Partido, e também estava claro que, neste caso, não tinham cometido nenhuma injustiça. Embora falasse com certa fúria controlada de sua luta contra a torpe censura, e chorasse por uma brilhante, embora inominada, série de programas culturais que teria começado justo antes que o jogassem fora do ar, a essa altura eu começava a cheirar tantos ratos, que minhas respostas eram muito cautelosas. Meu interesse pecuniário no senhor Hartford diminuía, mas minha curiosidade pessoal aumentava. Quem estava por trás dele? Não a BBC...
Quando conseguiu tirar do corpo toda a auto-compaixão, falou finalmente do assunto:
— Tenho uma notícia que o fará levantar-se — disse presumidamente. — As cadeias norte-americanas terão logo competência. E será na forma que você predisse. A gente que enviou à Lua um transmissor de televisão pode pôr um muito maior em órbita ao redor da Terra.
— Felicito-os — falei cautelosamente. —Sempre estou a favor da sã competência. Quando o lançam?
— A qualquer momento. O primeiro transmissor o estacionarão ao sul de Nova Orleans; no Equador, claro. Isso significa que estará bem fora sobre o Pacífico; não ficará sobre o território de nenhuma nação e não surgirão, portanto, complicações políticas. Entretanto estará ali no céu, bem à vista de todo o mundo, de Seattle ao Key West. Pense: a única estação de televisão que se poderá sintonizar em todos os Estados Unidos! Sim, inclusive o Havaí! Não haverá forma de provocar interferências; pela primeira vez haverá um canal que pode entrar em cada lar norte-americano. E os Boy Scouts do J. Edgar não podem fazer nada para bloqueá-lo.
“De modo que essa é sua pequena fraude”, pensei; “pelo menos é franco.”
Faz tempo que aprendi a não discutir com marxistas, mas se Hartford dizia a verdade, queria lhe surrupiar tudo o que fosse possível.
— Antes que se entusiasme muito — falei — há alguns pontos que você pode ter esquecido.
— Por exemplo?
— Isto funcionará em duas direções. Todos sabem que a Força Aérea, a NASA, os Laboratórios Bell, a I.T.T, Hughes, e outras várias dúzias de agências estão trabalhando no mesmo projeto. Algo que a Rússia faça aos Estados Unidos em matéria de propaganda lhe será devolvido do mesmo modo.
Hartford sorriu com tristeza.
— Caramba, Clarke! — disse. (Alegrou-me que não me chamasse pelo nome.) Estou um pouco desiludido. Você deve saber que os Estados Unidos levam vários anos de atraso em capacidade de carga. Você crê que o velho T.3 é a última palavra da Rússia?
Foi nesse momento que comecei a tomá-lo muito a sério. Tinha toda a razão. O T.3 podia transportar pelo menos cinco vezes mais carga útil que qualquer foguete norte-americano a essa órbita crítica de trinta e cinco mil quilômetros, a única permitiria a um satélite permanecer fixo sobre a Terra.
E quando os Estados Unidos pudessem igualar essa façanha só o céu sabe onde estariam os russos. Sim, o céu saberia seriamente...
— Muito bem — concedi. — Mas por que cinqüenta milhões de lares norte-americanos teriam que começar a trocar de canal logo que possam sintonizar Moscou? Admiro aos russos, mas seus entretenimentos são piores que sua política. Tirando o Bolshoi, o que fica?
Recebi outra vez aquele sorriso triste e estranho. Hartford tinha guardado o golpe mais forte.
— Foi você quem trouxe os russos à conversa — disse — Estão nisto, certo; mas só como empreiteiros. A agência independente para a qual trabalho paga os seus serviços.
— Essa — observei friamente — deve ser uma grande agência.
— E é; a maior. Embora os Estados Unidos pretendam que não existe.
— Oh — eu disse, algo estupidamente. —De modo que esse é seu patrocinador.
Já tinha ouvido esses rumores de que a URSS ia lançar satélites para os chineses; agora parecia que os rumores deixavam vislumbrar parte da verdade.
— Você tem toda a razão — continuou Hartford que, obviamente, estava se divertindo — sobre os entretenimentos russos. Logo depois da novidade inicial, o índice de audiência baixaria a zero. Mas não com o programa que eu projeto. Meu trabalho é encontrar material que deixe todos outros canais fora de combate quando for ao ar. Você acredita que não se pode fazer?  Termine essa bebida e suba ao meu quarto. Tenho um longo filme sobre arte religiosa que eu gostaria de lhe mostrar.
Bom, não estava louco, embora durante alguns minutos eu duvidasse. Podia pensar poucos títulos melhor calculados para que o espectador sintonizasse o canal que o que apareceu na tela: ASPECTOS DA ESCULTURA TÂNTRICA DO SÉCULO XIII.
— Não se inquiete — riu Hartford, sobre o zumbido do projetor. — Esse título economiza-me problemas com os inspetores de Alfândega. É correto, mas o trocaremos por algo mais atraente quando chegar o momento.
Sessenta metros mais adiante, logo depois de umas longas tomadas inócuas de arquitetura, compreendi o que queria dizer.
Vocês sabem que há, em certos templos na Índia, inúmeras esculturas soberbamente executadas, de um tipo que nós no Ocidente jamais associaríamos com religião. Dizer que são francas é risível; não deixam nada à imaginação... qualquer imaginação. Mas ao mesmo tempo são genuínas obras de arte. E também o era o filme do Hartford.
Tinha sido filmado, caso lhes interesse, no Konarak, o Templo do Sol. Logo me informei; está na costa da Orissa, uns trinta e cinco quilômetros ao noroeste do Puri. Os livros de referência são bastante tímidos; alguns se desculpam pela “óbvia” impossibilidade de mostrar ilustrações, mas a Arquitetura hindu de Percy Brown não economiza palavras. As esculturas, diz, são de “um desavergonhado caráter erótico que não tem paralelo em nenhum edifício conhecido”. Parece exagero, mas acredito nisso depois de ter visto esse filme.
A fotografia e a montagem eram excelentes; a antiga pedra despertava para a vida diante das lentes. Havia largas tiras de sol afugentando sombras de corpos entrelaçados em êxtase, que deixavam sem fôlego; assombrosas tomadas, em primeiro plano, de cenas que, no princípio, a mente se negava a reconhecer; estudos brandamente iluminados de pedra esculpida por um professor, em todas as fantasias e aberrações do amor; incansáveis movimentos cujo significado evitava a compreensão, até que se imobilizavam em desenhos de desejo intemporal, de satisfação eterna.
         A música, principalmente percussão, entrelaçada com o agudo som de algum instrumento de cordas que não pude identificar, se adequava perfeitamente ao tempo da montagem. Por momentos era lenta e suave, como os primeiros compassos de “L'Apres midi” de Debussy; depois os tambores chegavam velozmente a um clímax de frenesi quase insuportável. A arte dos antigos escultores e o talento do cineasta moderno combinaram-se através dos séculos para criar um poema de êxtase, um orgasmo em celulóide que ninguém poderia presenciar sem comover-se.
Houve um longo silêncio quando a tela se inundou de luz e a música lasciva terminou de apagar-se.
— Meu Deus! — falei, quando recuperei algo de minha compostura. — Vão transmitir isso?
Hartford riu.
— Acredite — respondeu — isso não é nada; ocorre que é o único filme que posso levar comigo sem perigo. Estamos dispostos a defendê-lo, nos apoiando na verdadeira arte, no interesse histórico, na tolerância religiosa... Oh, pensamos em todos os ângulos Mas na realidade não importa; ninguém pode nos deter. Pela primeira vez na história toda forma de censura se torna impossível. Simplesmente não há maneira de aplicar a lei; o cliente obtém o que deseja, e em sua própria casa. Fecha a porta, liga o televisor; os amigos e a família jamais saberão.
— Muito engenhoso — falei — mas você não acha que uma dieta semelhante cansa muito em breve?
— É obvio; na variedade está o gosto. Teremos muitos entretenimentos convencionais; deixe que eu me preocupe com isso. E de vez em quando teremos programas de informação, odeio essa palavra “propaganda”, para dizer ao enclausurado povo norte-americano o que realmente acontece no mundo. Nossos filmes especiais serão somente a isca de peixe.
— Importa-lhe se tomo um pouco de ar fresco? — falei. — Isto está se tornando irrespirável.
Hartford correu as cortinas e deixou que a luz voltasse para o quarto. A nossos pés se estendia uma larga praia curva. As batangas dos botes de pesca se elevavam sob as palmeiras e as pequenas ondas se desfaziam em espuma, ao concluir sua fatigante marcha da África. Uma das paisagens mais formosas do mundo, mas não me pude concentrar nela. Ainda via aqueles membros retorcidos, aqueles rostos gelados com paixões que nem os séculos podiam extinguir.
A voz libidinosa continuou às minhas costas:
— Se surpreenderia caso soubesse quanto material há. Recorde, não temos nenhum tabu. Se se pode filmar, nós podemos televisioná-lo.
Caminhou até seu escritório e levantou um pesado volume, bastante usado.
— Esta foi minha Bíblia — disse — ou meu Sears, Roebuck, se você o preferir. Sem ela nunca teria vendido a série a meus patrocinadores. São grandes crentes na ciência e engoliram toda a coisa, até o último ponto.
Assenti. Sempre que entro em um quarto analiso os gostos literários do hóspede.
— O doutor Kinsey, não?
— Acredito que sou o único homem que o leu de capa a capa, em vez de olhar somente as estatísticas. Nesse campo é a única investigação de mercado. Até que apareça algo novo lhe tiraremos todo o suco. Diz-nos o que o cliente quer, e nós vamos dar-lhe.
— Tudo?
— Se a audiência for suficientemente grande, sim. Não nos preocuparemos com os camponeses tolos que se tornam viciados na mercadoria. Mas os quatro sexos principais receberão um tratamento completo. Essa é a beleza do filme que você acaba de ver: atrai todo mundo.
— Disso não cabe dúvida.
— Divertimo-nos muito planejando o filme que intitulei “Rincão do homossexual”. Não ria, nenhuma agência empreendedora pode permitir-se ignorar essa audiência. Pelo menos dez milhões, contando as damas. Se acredita que eu exagero olhe nos quiosques todas as revistas que tem de arte masculina. Não foi fácil chantagear alguns dos mais delicados e conseguir que atuassem para nós.
Viu que estava começando a me aborrecer; há certo tipo de obsessão que acho deprimente. Mas fui injusto com Hartford, como ele se apressou a provar.
— Por favor, não pense — disse ansiosamente — que o sexo é nossa única arma. Alguma vez viu o trabalho que Ed Murrow fez com o defunto Joe McCarthy? Isso não é nada, comparado com os perfis que estamos planejando em “Washington Confidencial”. E a nossa série “Você pode suportá-lo?” destinada a separar os homens dos maricas? Publicaremos tantas advertências por antecipação, que todo norte-americano se sentirá obrigado a ver o programa. Começará de forma inocente, apoiado em um tema muito bem preparado por Hemingway. Ver-se-ão algumas seqüencias de corrida de touros que literalmente o levantarão do assento, ou o enviarão correndo ao banheiro, porque mostram todos os pequenos detalhes que nunca se vêem nesses pulcros filmes de Hollywood. Seguiremos depois com um material realmente único, que não nos custa nada. Recorda as provas fotográficas dos julgamentos do NUREMBERG? Você nunca as viu porque não eram publicáveis. Havia vários fotógrafos aficionados em campos de concentração e tiraram todo o suco de uma oportunidade que não voltaria a apresentar-se. Alguns deles foram pendurados graças ao testemunho de suas próprias câmaras, mas seu trabalho não se perdeu. Será uma boa introdução para nossa série “A tortura através dos séculos”; muito erudita e exaustiva, embora de grande atrativo. E há dúzias de enfoques, mas agora você tem uma idéia. A Avenida crê saber tudo sobre Persuasão Oculta. Acredite que não sabe. Os melhores psicólogos práticos do mundo estão agora no Oriente. Recorda a Coréia e a lavagem de cérebro? Aprendemos muito depois. Já não há necessidade de violência; as pessoas gostam que lhe lavem o cérebro, se for bem feito.
— E vocês vão lavar o cérebro dos Estados Unidos... — disse. — Todo um trabalhinho.
— Exatamente. E o país adorará, apesar de todos os gritos do Congresso e das Igrejas. Sem mencionar as cadeias de televisão, suponho. São as que farão mais escândalo, quando virem que não podem competir conosco.
Hartford olhou o relógio e assobiou com alarme.
— É hora de fazer as malas — disse. — Às seis tenho que estar nesse impronunciável aeroporto. Não seria possível que você voasse a Macau alguma vez, para nos ver?
— Não, mas já formei uma boa idéia do assunto. A propósito, não tem medo que eu lhe arruíne o negócio?
— Por que? A publicidade nos favorecerá. Embora nossa campanha não saia até vários meses acredito que você ganhou este privilégio. Como lhe disse, seus livros ajudaram a me dar a idéia.
“Sua gratidão era genuína, meu Deus!” Deixou-me completamente mudo.
— Nada pode nos deter — declarou e, pela primeira vez, não pôde controlar o fanatismo que se escondia atrás da fachada amável e cínica. — A História está do nosso lado. Utilizaremos a própria decadência dos Estados Unidos contra eles mesmos; é uma arma ante a qual eles não têm defesa alguma. A Força Aérea não tentará cometer pirataria espacial, derrubando um satélite completamente afastado do território norte-americano. A Comissão Federal de Comunicações não pode sequer protestar a um país que não existe aos olhos do Departamento de Estado. Se tiver alguma outra sugestão, eu estaria muito interessado em escutá-la.
Não tinha nenhuma então e não tenho nenhuma agora. Possivelmente estas palavras possam servir de breve advertência, antes que apareçam os primeiros anúncios provocadores nos periódicos, alarmando as cadeias de televisão. Mas obterei algo? Hartford acreditava que não e talvez tivesse razão.
“A História está do nosso lado.” Não pude tirar essas palavras da cabeça. “Terra de Lincoln e Franklin e Melville, amo-te e te desejo o melhor. Mas em meu coração sopra um vento frio do passado, pois recordo a Babilônia.”

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O adeus de uma estrela.

Na semana passada o mundo perdeu uma Grande Diva. 

O Visual dela certamente chamava a atenção, e não era para menos.

Ela fez algo que muitos achavam ser antigo, dos anos 60, ser admirado pelas novas gerações.Acompanhamos pela TV suas glórias e seus percalços.                                                   Apesar do fim anunciado, muitos fãs ao redor do mundo choraram a sua partida após 27 anos.

ADEUS ATLANTIS!!!!!!!!!!!!!


sábado, 2 de julho de 2011

Povos Tribais e a Natureza, por David Brin



Existe a idéia romântica que povos tribais, Tanto os antigos quanto aqueles vivendo nas florestas tropicais cada vez mais raras hoje em dia, de que eles convivem em harmonia com a natureza e levam uma vida feliz e igualitária. Porém pesquisas recentes mostram que esta crença está muito distante da realidade, sendo algumas vezes completamente falsa. Apesar do ardente desejo de se acreditar no oposto, os fatos mostram que os membros de quase todas estas sociedades ditas “Naturais” saqueiam seu Próprio ambiente e aos seus semelhantes. Os estragos que eles causam são apenas limitados pela pouca tecnologia que utilizam e pelo seu numero reduzido.
Stephen Jay Gould condena como um nonsense romântico o ditado de que “Somente o homem mata por esporte, enquanto os outros animais matam apenas para comer ou para se defender.” Qualquer um que tenha observado um gato brincando com um rato, ou um garanhão lutando por predominância sabe que os Seres Humanos são muito destrutivos não porque há algo fundamentalmente errado em nossa natureza. É o nosso poder que aumenta os estragos que nós fazemos, chegando a ameaçar o próprio planeta. A Grande ironia é de que mitos como o “Bom Selvagem” e o “Nobre Animal” são sustentados com convicção pelos mesmos Povos Ocidentais, cuja cultura foi a única a se sentir tranqüila o suficiente para  promover uma tradição de autocrítica.

David Brin, Earth


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Transhumanismo: Em rumo a Novas Ideologias e as prioridades dos Up-Wingers

Não é apenas o espírito de nossa era que está mudando e se tornando mais otimista. Nossas ideologias e programas de ação também estão evoluindo, tornando-se mais globais, mais cósmicas. Os sistemas econômicos, políticos e sociais do passado estão se tornando cada vez mais obsoletos e ficando menos relevantes diante de novas situações como a redução do autoritarismo em todos os níveis de todas as sociedades, a secularização, o aumento da força e da fluidez do ego, a humanização dos valores e convergência da humanidade, a contracepção, os mercados comuns, a política internacional, satélites de comunicação, energia nuclear, eletrônica, lasers, viagens espaciais, engenharia genética...
Nunca antes nossa condição teve uma total reestruturação em suas bases como agora, portanto nunca nossas instituições sociais e ideologias foram tão profundamente desafiadas e tornadas irrelevantes. Isto se aplica inclusive até as ideologias mais radicais. Nós ainda consideramos radicais e revolucionários qualquer movimento que busca derrubar o status quo, seja ele político, social ou econômico. Mas não conseguimos perceber que hoje existe a nossa volta uma revolução muito mais transcendente e cósmica, desafiando um status quo muito mais básico.    
Isto é tão óbvio que a maioria das pessoas ainda não compreende, preferindo ficar com aquilo que é familiar. Mesmo o radicalismo precisa permanecer familiar.Mesmo os mais radicais têm dificuldades de aceitar os novos radicalismos. Por exemplo, o fato de seres terrestres caminhando pela superfície lunar é um fenômeno tão esmagador, tão atordoante para a maioria das pessoas aceitar. Isto necessita de uma total alteração de todos os conceitos, noções, suportes e defesas com as quais convivemos por milênios. Este é o motivo de tantas pessoas estarem ressentidas com os primeiros pousos na lua, protestando, ridicularizando, ou mesmo caindo no sono enquanto assistiam o evento. O evento era simplesmente radical demais para a psique e o intelecto aceitarem.   
É também pelo mesmo motivo que muitos vão ficar ressentidos, -sim ressentidos-, quando um dia ficarem sabendo que poderão viver eternamente.
As pessoas podem aceitar o antigo “radicalismo”, aquele que tenta derrubar um governo, uma religião ou um sistema econômico. Isto é uma coisa familiar que pode ser entendida sem muito esforço.Mas este novo radicalismo de nossa era, que altera muito a nossa situação no Tempo-Espaço é considerado emocionalmente ameaçador e monumental demais para ser aceito. Esta é uma revolução que estabelece uma “Ordem das Coisas” inteiramente nova, introduzindo todo um novo conjunto de premissas cósmicas, que demandam uma completa reorientação das premissas sociais e psicológicas.
À luz desta revolucionaria situação diante do Tempo-Espaço todos os velhos radicalismos são conservadores. Não importa se seja Democracia, socialismo, liberalismo ou Nova Esquerda, eles foram progressivos em uma velha Ordem das coisas. Faz sentido este atual equívoco entre nações, raças e ideologias? Eles são irrelevantes, insignificantes. À luz das revoluções cósmicas e biológicas todos os levantes violentos também são como brincadeira de criança.Aqueles que recorrem à violência seja o motivo que for, não podem mais considerados revolucionários. São meramente românticos com métodos arcaicos e suas contribuições são desprezíveis. 
Houve um tempo quando os revolucionários davam suas vidas para desfazer algo errado ou gerar mudanças. Nestes tempos de lentidão estes sacrifícios supremos eram freqüentemente a forma mais eficiente de criar uma ruptura em um status quo rígido como granito. Além disto, o militante que estava preparado para morrer por uma causa freqüentemente estava certo de uma vida após a morte. O líder dizia “Se morrer pela nossa causa, você irá para o paraíso. Os deuses irão recompensá-lo.” O que um líder pode prometer hoje? Morrer para que? Derrubar a tirania? Acabar com a opressão e a injustiça? Existe alguma opressão ou tirania maior do que a morte? A própria morte é o fim da liberdade e do progresso. Hoje mais do que nunca a vida é considerada preciosa, com muito potencial para ser desperdiçada por qualquer motivo que seja.“
Liberte-me ou me mate.” A duzentos anos atrás isto tinha alguma lógica, porém hoje isto é estupidez. Se os líderes querem combater os seus inimigos até a ultima gota de sangue, deixe que o façam, mas não derramem o sangue dos outros. As pessoas estão conscientes que a vida é tão maravilhosa para ser desperdiçada em um campo de batalha fedorento apenas por algumas diferenças de idéias. No ano de 2050, todos os soldados e guerrilheiros que morrem hoje por alguma causa terão sido esquecidos a muito tempo. Eles estarão entre bilhões de pessoas anônimas e desconhecidas que lutaram e morreram neste planeta por milhares de anos. O verdadeiro revolucionário luta uma outra batalha. Ele quer estar vivo no ano de 2050 e talvez no ano 20.000. O que pode ser mais radical do que isto?
Os intelectuais que ainda romantizam as guerrilhas e outros movimentos violentos vivem muito longe das zonas de guerra. A militância pode impressionar as garotas, mas não é mais algo revolucionário. Mas quem são os revolucionários dos novos tempos? Eles são geneticistas, físicos nucleares, astrônomos, filósofos, pesquisadores das mais diversas especialidades, astronautas, escritores de ficção cientifica, inventores, entre outros. Eles estão modificando a condição humana de uma maneira fundamental, e suas realizações e objetivos vão muito mais além que as ideologias da velha ordem.
Por volta de 2010 o mundo estará em uma nova órbita na história da humanidade. Nós iremos viver ao redor de todo este planeta. Estaremos em cara em qualquer lugar.Nós seremos hiperfluídos: andaremos em terra firme, nadaremos em oceanos profundos e cruzaremos os céus. Nós seguiremos adiante propelidos pela abundância. A expectativa de vida será indefinida e as doenças e deficiências físicas não vão existir mais. Mesmo a morte será rara e acidental, mas não permanente. Nós continuamente descartaremos nossa obsolescência e cresceremos jovens. Em 2010 tudo isso será a norma e dificilmente considerado maravilhoso. Mas por quê esperar até 2010?
Uma nova corrente ideológica, com um novo conjunto de prioridades pode ajudar,
a acelerar nossa evolução. Todas nossas velhas linhas-mestra estão agora sem objetivos. O capitalismo e o socialismo são construções esgotadas da era industrial, que embora tenham nos ajudado a chegar até onde estamos hoje, não possuem cenários para órbitas mais altas.No máximo eles almejam apenas realinhar sistemas sociais pré-existentes. A direita nem a esquerda possuem programas visando combater o envelhecimento, nem grandes projetos para novas civilizações através do sistema solar.Os planejadores de direita/esquerda ainda estão pensando na mera “industrialização do espaço”: comunidades orbitais com casas de dois andares, empregos das 9 as 17 horas, escolas, fazendas e restaurantes Italianos! É por isso que quereremos viajar pelo universo?
Ao longo do século  XX o mundo se moveu em direção a esquerda . Nos próximos anos nos estaremos além da direita e da esquerda. Nós iremos para o alto.Para uma nova e triunfante trajetória, uma confluência de todos os avanços de nossa era.  As prioridades abaixo são interdependentes, ou seja, para avançarmos rapidamente em qualquer uma delas, deveremos avançar em todas. Estas prioridades são aceleradoras, destinadas a acelerar o nosso avanço ao longo das primeiras décadas do próximo século.
Imortalidade Física: O problema mais básico diante de nós é a morte. Todas as outras restrições humanas são derivadas desta. A morte lança uma ameaça sobre todos os seres vivos. Enquanto nós formos terminais, jamais conseguiremos melhorar o básico da qualidade de vida. Enquanto houver a morte ninguém será livre. Aceleradores: atrasar o envelhecimento através de intervenções genéticas/cirúrgicas.Telemonitorar todas as pessoas para uma continua proteção contra perigos internos e externos. Reformatar nossos corpos terminais para telecorpos versáteis com facilidade de reparo. Facilitar o vôo livre para reduzir o desgaste gravitacional e se afastar rapidamente de áreas de desastres naturais. Criar um serviço universal de criogenia diante das mortes inevitáveis.Difundir a psicologia da imortalidade: o desejo de viver para sempre.
Colonização do Espaço:Nós necessitamos urgentemente acelerar a exploração e colonização do Sistema Solar e do Universo além. Por quê isso é uma prioridade? Porquê este é um caminho que nos abre a possibilidade do espaço infinito,energia infinita, matérias primas infinitas, crescimento infinito.  Acelera a nossa transição para além do industrialismo, em nossa transformação, de animais limitados a Terra em pós-humanos extraterrestres. Multiplica a nossa chance de interconexão com outras inteligências que podem estar “anos-luz” a nossa frente. Durante as próximas décadas sociedades orbitais oferecerão excelentes oportunidades para rompermos rapidamente com condições que estiveram conosco na Terra, perpetuando o sofrimento humano por milênios. Sobre nenhuma circunstância nós deveremos replicar as sociedades terrestres, nada de escolas, prisões e hospitais, economia monetária e trabalho de subsistência, extermínio de animais para alimentação, governos centralizados, nações cemitérios.   As civilizações orbitais devem iniciar com as telesferas do século XXI.
Telesferas: Vamos acelerar a mudança do industrialismo para uma nova era através das telesferas. O mundo das telesferas é o avanço a partir da convergência de avanços em várias áreas: Energia renovável, telecomunicações interativas, máquinas ultra-inteligentes, revoluções nos campo biológico e cultural e as viagens espaciais. Estas e outras forças estão reconfigurando a vida de maneiras inteiramente novas.Estamos criando ambientes eletrônicos que integram todas as pessoas e serviços. Ninguém necessitara mais ficar próximo a centros estáticos de convivência, aprendizado ou tomada de decisões. Você estará conectado onde você estiver. Por exemplo, o passo além da escola é a teleducação, o passo além dos hospitais é a telemedicina preventiva.Os passos adiante da burocracia são a telegerencia e as teleconferências. O passo além de um sistema judiciário vingativo é o telemonitoramento preventivo da criminalidade, e o futuro do comercio varejista é a telecompra direta de fábrica. O degrau acima da política é a teledemocracia via referendos universais.
Telecérebros: Como nós podemos acelerar o cérebro humano? Mapear continuamente o cérebro humano.  Utilizar remédios implantados que seriam liberados aos poucos para auto-regular o humor e mudanças bioquímicas. Empregar técnicas de engenharia genética para regenerar as células nervosas envelhecidas, aumentar a inteligência e desativar partes vestigiais do cérebro.
Implantar no cérebro supermicrochips para aumentar a capacidade de memória, versatilidade e poder da mente humana, permitindo acesso instantâneo as informações através de uma interface direta entre o cérebro humano com outras mentes ou com as máquinas. Desta forma os cérebros humanos poderão evoluir como telecérebros: poderosos transmissores autônomos, livres das limitações de um corpo animal e capaz de se conectar a um novo corpo substituível.
Teleconômia: Para que a teleconômia do século XXI possa brotar, nós precisamos acelerar o desenvolvimento, da energia solar, fusão nuclear e do combustível hidrogênio. A energia é o principal acelerador. Energia abundante significa abundancia de alimentos e de matérias-primas.Estas novas riquezas, particularmente a energia solar, não é monopolizável e irá reforçar a descentralização global das riquezas, informações e poder. Uma nova abundância também aceleraria o desenvolvimento de tecnologias inteligentes que eliminariam o trabalho de subsistência. O trabalho será convertido num processo voluntário e criativo. Por volta do ano de 2010 a fartura de energia irá acelerar o abandono do uso da moeda que também nos ajudaria a superar o desejo por lucro, a competição, o desequilíbrio de riqueza, conflitos de interesses, ciclos de inflação/recessão/exploração. Como é absurda toda a nossa ênfase em recursos finitos e sacrifício justamente no momento da evolução em que estamos abrindo caminho para os recursos infinitos do universo. Nós teremos recursos abundantes para nos manter durante milhões, talvez bilhões de anos.O suficiente para durar enquanto o universo existir.
Teledemocracia: Todas as formas de governo são intrinsecamente autoritárias.As diferenças são os níveis de autoritarismo. Votar em lideres e representantes que por sua vez tomam decisões unilaterais para a população não é democracia. Vamos parar de nos iludir. Em nossa nova era a democracia significa a participação direta em todas as decisões. Isto significa não votar em líderes e sim em projetos. As opiniões de todos os lados de cada questão serão transmitidas regularmente, bem como simulações de computador das prováveis conseqüências de cada cenário. Como não ocorrerão disputas por liderança ou poder, os projetos serão despolitizadas.O foco será os méritos de cada projeto. Comitês temporários, escolhidos ao acaso a cada mês, supervisionariam os referendos e a implantação das decisões. Em uma era de telesferas interativas os políticos serão tão supérfluos quanto os escribas. Pelas primeiras décadas do século XXI os governos existirão como nome para o poder da vontade de mudança via consultas diretas da população.
Telecomunidades: As grandes cidades da era industrial terão um grande futuro...Como museus!!! Nós poderemos fechá-las e limpá-las. O que substituirá as cidades? Nós já temos alguns vislumbres das telecomunidades do século XXI: Comunidades móveis (aeroparques), festivais globais, eventos de vídeo internacionais, estações espaciais. Uma telecomunidade pode ser instantânea: ativada em alguns dias e desmontada em algumas horas. Estas novas comunidades acomodariam a maior mobilidade das pessoas. Elas seriam como plataformas de pouso/decolagem, montadas em concepção modular. Nada de tijolos e concreto, nada para ficar fixo um tempo longo o suficiente para se atrofiarem em guetos e malocas. A energia solar abundante, em módulos automatizados capazes de serem transportados significa que as esferas de conexão poderão ser montadas em qualquer local. Não haverá ruas. As novas comunidades serão inteiramente teleféricas: teleducação, telemedicina, telecomércio.O tamanho não importa. Elas estarão se ampliando e contraindo constantemente.
Globalismo: Na era das telecomunicações globais, aviões supersônicos, viagens internacionais e economia globalizada, as nações existem mais no papel do que na prática. Em nossa era o nacionalismo é um claro sinal de atraso. As nações são como os territórios cartografados com urina pelos cães. Esta territorialidade é um antifuturo, uma vez que você pode urinar em qualquer lugar do mundo!!! Aceleradores: Mais infra-estruturas globais para resolver questões globais. Referendos globais.Redes globais de telecomunicações, mercados comuns e blocos regionais, um idioma universal, tudo que nos unir. Como os indivíduos poderão reforçar este processo? Mudando a mentalidade. Por exemplo: Qual é a sua nacionalidade? Eu sou global.  Mas de onde você veio? Eu vim do planeta Terra. Desta forma poderemos espalhar uma nova consciência, de uma vida global. A cada vez que você viaja, o mundo parece menor. Crianças viajando desde pequenas crescerão como “Cidadãos do Mundo”. Elas terão melhores chances de globalizar o resto. Não haverá mais turistas e estrangeiros, nada de guardas de fronteira ou orgulho nacional.Este planeta inteiro pertencerá a todos nós.
Valores do Século XXI: Valores tradicionais resultaram em eras de escassez, privações, vidas breves e isolamento. Os avanços do final do século XX estão moldando novos ambientes com uma série de novos valores e ideais. Uma nova consciência está emergindo, cada vez mais livre de culpas puritanas, vergonha, cinismo e auto-negação. O que significa a velha psicologia do sacrifício em uma nova era de abundancia? No futuro as gerações inteiras jamais conhecerão a pobreza e a privação. Para eles a abundancia será a norma. Nesta nova consciência a privação e é considerada uma prisão e a abundancia a liberdade.  Faz sentido a antiga orientação para o sofrimento em um tempo quando os avanços da medicina  estão combatendo as doenças do corpo e da mente? Faz sentido falarmos em ética profissional quando a tecnologia esta cada vez mais ocupando nosso trabalho? A ética do trabalho agora impede o crescimento. Uma nova ética do lazer vai acelerar a inovação e o progresso. O que significa a competição em uma era de plenitude? Por que nós precisamos saber quem é o melhor em tudo? Por que concursos? Por que precisamos do Prêmio Nobel, do Prêmio Pulitzer, do Oscar e das Olimpíadas? Sistemas ultrapassados e manipuladores que colocam as pessoas umas contra as outras deveriam ser boicotadas. A competição drena a energia de todos. Para avançar adiante o que nós precisamos é da complementação da criatividade e habilidades de todos.
Por quê praticamos religiões e crenças espirituais que exigem uma submissão infantil a divindades e “autoridades supremas” em um tempo em que as novas gerações crescem em ambientes mais abertos onde não é mais aceita uma autoridade absoluta? Em uma era onde nossos passos cósmicos estão provando continuamente que não existem limites permanentes, que nós somos agentes livres no universo? O maior avanço em nossa era é uma mudança de nossa auto-imagem. Um novo tipo de revolucionário está surgindo, embalado por sonhos inteiramente novos. Eles não estão contentes com os direitos civis, direitos iguais, direitos humanos. Estas liberdades não são mais suficientes. Nos agora queremos a liberdade para redesenhar todas as áreas de nossa evolução. Nós queremos liberdade biológica. Nos queremos a liberdade para nos espalhar pelo universo.  Nos queremos estar vivos daqui a cem, quem sabe mil anos.
Queremos difundir um ousado e novo otimismo originado do fato de que após eras a vida não estará mais limitada a este mundo, nem limitada a corpos frágeis. Nos queremos emergir como uma nova espécie: extraterrestre e imortal. Nós desejamos espalhar uma nova autoconfiança emanada no fato de que se nos lançamos sondas ao espaço profundo,  e decodificamos os grandes mistérios do universo, nós poderemos fazer qualquer coisa, mas somente se mobilizarmos a nossa genialidade para realizar os nossos sonhos. Nosso desejo é difundir esta nova consciência, que considera nenhum de nossos problemas irreversíveis e nenhuma meta inatingível.E na qual estamos decolando para uma nova e maravilhosa era. Esta é uma nova esperança para a humanidade.   


Fereidoum M.Esfandiary/FM-2030
Fonte:
Esfandiary, F.M. Optimism One. New York: Norton, 1970.

Future Life # 27, junho de 1981


terça-feira, 14 de junho de 2011

Estaria a Ficção Científica Morrendo? Nick&Carl Sagan Respondem

Lembram do Nick Sagan, o filho do Carl Sagan que era roteirista de Star Trek ?
Achei um comentário dele bastante interessante sobre os Caminhos da Sci-Fi Atual que eu havia comentado no post anterior:
"Para um gênero que se pretende olhar para o futuro, a Ficção Científica tem certamente olhado muito para trás nos últimos tempos.
Nostalgia é o que mais se vende, os leitores gastam seu dinheiro em livros que são tirados de filmes de sucesso, e das seqüências de séries de longa duração.
Sim, também há novos livros fantásticos de Ficção Científica (basta ver os últimos vencedores do Hugo para se ter certeza disso) mas cada vez mais leitores preferem universos já estabelecidos como Star Wars e Duna.
Nós estamos nos habituando com aquilo que é confortável. Não que tenha algo errado com isso. Mas levanta a questão para onde a Sci-Fi está indo.
A Sci-Fi americana caiu em um abatimento em parte pelo sentimento anti-científico que é prevalecente em nossa cultura ultimamente.
Estamos mais preocupados com a estética do que com a ciência. ('Não é sinistro o novo Ipod?’)
Não estamos nos fazendo as perguntas que importam, sobre nosso futuro, o futuro de nossa espécie, perguntas que a FC regularmente explora mostrando-nos o melhor e o pior do que podemos vir a ser.
Quando o mundo se achar inspirado por uma nova iniciativa cientifica, da escala de um programa Apolo, digo, energia renovável para proteger nosso planeta da mudança climática ou uma missão tripulada a Marte, onde nós podemos colocar nossos pés – então haverá um ressurgimento da FC e surgirá uma nova geração de leitores, e o gênero poderá ir por novos, inesperados e excitantes caminhos." Nick Sagan
Completaria o que ele disse com uma frase do pai dele:
“As visões que oferecemos aos nossos filhos formam o futuro. O conteúdo destas visões  é importante, pois elas se tornam profecias. Os sonhos são mapas . Não acho irresponsável descrever pesadelos terríveis , para evitá-los.Devemos compreender  que são  possíveis , mas aonde estão as alternativas, os sonhos  que nos motivam e inspiram ? Desejamos mapas realistas  de um  mundo  que possamos legar para nossos filhos. Onde estão os cartógrafos do desígnio humano , onde as visões de futuro cheio de esperança, de uma tecnologia que seja  a ferramenta para o aperfeiçoamento humano e não um revólver com um gatilho sensível apontado para nossas cabeças.”Carl Sagan

terça-feira, 1 de março de 2011

Conhecimento: A Fronteira Final

Durante um curso universitário, muitos estudantes simplesmente contentam-se a um mero “arroz com feijão”, somente absorvendo os conteúdos e não buscando um maior aprofundamento.  Além disto, tendem a seguir uma uniformidade de idéias, o que é pernicioso para o pensamento científico, levando a uma estagnação do conhecimento, limitando-se a um pragmatismo utilitarista. Desta maneira os alunos devem ser criativos e principalmente pesquisadores, buscando novas fontes de informações a fim de desenvolver novas teorias que serão as bases das tecnologias do amanhã.
Estamos em uma era, marcada pelo grande avanço das telecomunicações  e da informática que permitem a difusão  e a análise  das informações em tempo real. Cabe ao pesquisador saber encontrar e interpreta-las  de forma crítica, analizando  com cautela todas as alternativas  possíveis, porém aberta a novas  interpretações, por mais inusitadas que estas possam parecer.É através da pesquisa, da busca incessante do conhecimento, que as grandes descobertas da humanidade foram possíveis, das astronaves que exploram o os confins do sistema solar, as vacinas que salvam milhares de vidas em nosso planeta e muitas outras maravilhas do mundo.
Assim, os universitários devem ser curiosos, questionadores, seguindo os seus sonhos e ideais, explorando ao máximo as novas capacidades tecnológicas e suas próprias habilidades ao máximo, não limitando-se ao trivial. Encarando os seus estudos com esta característica, os alunos estarão realizando uma verdadeira jornada pelo saber, “audaciosamente indo onde ninguém jamais esteve.”

A Saga das Voyagers

Existe uma ligação de longa data entre a ficção científica e a ciência, que por muitas vezes acabam se cruzando. Devemos nos lembrar que muitas das tecnologias mais avançadas que existem hoje como carros, submarinos, foguetes, computadores, entre outras coisas foram previstas em romances de ficção cientifica do século XIX, como os de Julio Verne e H.G Wells. O que ontem era apenas sonho e especulação, hoje são fatos científicos ou pelo menos um prospecto para o amanhã. Em seus vôos da fantasia, os grandes mestres da ficção cientifica muitas vezes estimularam as novas gerações investirem em uma carreira cientifica e a realizar grandes proezas, como as realizadas por Werner Von Braun e Serguei Korolev, os cérebros por trás dos programas espaciais dos EUA e da Ex-URSS respectivamente.
Atualmente entre todas as franchises de ficção cientifica hollywoodianas,sem dúvida a que mais se associa com os programas da NASA é Star Trek. Como certa vez disse o produtor André Bormanis, que trabalhou nas duas últimas séries da franquia, Voyager e Enterprise, “Star Trek e o programa espacial norte americano se reforçam um ao outro na visão de um futuro de esperança e progresso, da exploração de novas fronteiras e na crença em que o bem pode triunfar sobre o mal.” Porém, infelizmente a maioria das (poucas) séries Sci-Fi “Space Opera” da atual safra carecem desta filosofia, apelando para um exagero de efeitos de computação gráfica como no caso da nova trilogia de Star Wars, ou então seguindo uma orientação Dark/Distópica em relação ao futuro, marcada por um tom derrotista, cínico, pragmático, tecnofóbico e belicista (refletindo a realidade nua e crua do nosso mundo atual, em guerra e estagnado economicamente), com as histórias voltadas para intrigas políticas e dramas de sobrevivência do mais forte, com personagens cheios de vícios, ódio e maus hábitos, e se utilizando de artifícios de sexo e violência para atrair o público, exemplificadas pelo Remake de Battlestar Galactica (produzida por Ron Moore, de Deep Space Nine), Farscape, Firefly, Babylon 5, Andrômeda (baseado num rascunho do Gene Roddemberry, começou bacana ,mas terminou um Hercules no espaço quando o Kevin Sorbo começou a dar pitaco) além dos Animes japoneses. Não é a toa que estas series não tiveram uma duração muito longa, nem criaram um fã-clube muito grande. Stargate SG1/Atlantis e Taken são raras exceções.
Ainda mais considerando que filmes de ficção cientifica, (exceto os Blockbusters de Super-Heróis que estão na moda, Épicos, alguns históricos, baseados em fatos reais como Gladiador, Alexandre e vários filmes com temática da Segunda Guerra mundial, ou fantasias Místico-Medievais, cheios de dragões, duendes, feiticeiros e cavaleiros, que tem um grande potencial entre o público infantil, com Crônicas de Nárnia, assim como os Desenhos Animados da Disney/Pixar) são muito caros (CGI, Maquetes,Figurinos,Cenários,etc...) e tem um público que embora fiel, é bastante restrito a uma pequena fatia do mercado (normalmente jovens do sexo masculino intelectualizados, os famosos Nerds), os chefões dos grandes estúdios de Cinema e TV em Hollywood, que acima de tudo querem $$$, principalmente para compensar a pirataria pela Internet, e o avanço de produções cinematográficas de fora dos EUA, como é o caso dos filmes de Kung-fu Made in China, alguns dramas políticos europeus e os bizarros filmes hindus de Bollywood que parecem zapping de canal, preferem produzir o que grande público está mais interessado, mesmo que seja lixo,como no caso dos Reality Shows, comédias teen acéfalas, filmes de terror, Enlatados Policiais, Campeonatos de Luta Livre e de Jogos de Baralho, Soap Operas (o equivalente americano das novelas brasileiras), pornôs e por aí vai... Além do mais esta Idiocracia é muito barata. Até os canais de documentários como Discovery e National Geographic já não são mais os mesmos.
Aqui no Brasil o gênero de ficção cientifica teve seus altos e baixos, de acordo com o Ibope que geravam aos canais. Acho que a maioria dos fãs lembra com saudade da Sessão Espacial na TV Manchete no período 90-91(bons tempos da infância), do Clássico Sábado SCI-FI do canal USA Network (Atual Universal Channel) e do tímido SciFox mais recentemente, que era meio picotado, as vezes dublado as vezes legendado, mas mesmo assim era legal com Taken,Arquivo X e Stargate Atlantis, mas pouco depois a rede preferiu entupir o horário com aquela baixaria de Simpsons e assemelhados .Até que veio o canal SCI-FI, mas foi uma decepção pois a maioria da programação é de filmes de terror, tem até um ridículo reality show sobre um grupo de Caça-Fantasmas (se eles pelo menos tivessem uma arma de feixe de prótons, rs ). Esta posição também resulta de um desinteresse da população em geral pela verdadeira ciência e tecnologia. A exploração espacial é considerada por muitos como uma simples relíquia da Guerra Fria, extremamente cara e de pouca utilidade prática, que deveria ser levada a cabo apenas por robôs.Além do mais exige projetos a longo prazo , cheios de riscos, conduzido por pessoas criativas e idealistas. Nesta era de “Mal-estar da pós-modernidade” as pessoas deixaram de sonhar com um novo e brilhante amanhã, preferindo se preocupar com coisas mais concretas e cotidianas, vivendo em um “Eterno Presente”, vivendo um dia depois do outro, seguindo a correnteza sem pensar, em uma mentalidade de colméia de abelhas, somente preocupadas com as finanças, fruto da obsessão neoliberal por “crescimento econômico” e “eficiência”, que deixariam o Quark e a Rainha Borg mortos de inveja. O maior invento do inicio do Século XXI é o Player de MP3, algo muito aquém das expectativas de cidades submarinas, colônias lunares, Carros elétricos, aviões de passageiros supersônicos (o Concorde foi aposentado em 2003) e é claro o robô doméstico. Recomendo a leitura de Fereidum Esfandiary e outros autores transhumanistas.
Conforme uma recente pesquisa realizada nos EUA 27% dos jovens entre 18-24 anos não acreditam que o homem esteve na lua em 1969. No Brasil não existe estatística, mas os números devem ser ainda maiores. Poucos são os garotos desta geração Pós-Apollo que associam Cinturão de Van Allen com radiações cósmicas e U-2 com Aviões Secretos (sei disso por experiência própia).

Todo este introdutório é para contar uma história de quando a realidade encontra a ficção, exemplificada quando a Voyager da vida real encontra a Voyager da Ficção. Quando se fala em Star Trek e em sua relação com as missões espaciais reais da NASA a maioria dos fãns lembra quando em 1976 a NASA batizou o protótipo do Space Shuttle utilizado nos testes de vôo atmosférico como Enterprise, em homenagem a lendária nave do Capitão Kirk. Mas em 1994 foi a vez da Paramount Pictures homenagear as Sondas Voyager 1 e Voyager 2 da NASA, que exploraram os confins de nosso Sistema Solar a Paramount Pictures retribuiu, nomeando a Nave da Capitão Janeway U.S.S Voyager.
As duas sondas Voyager que no ano passado completaram 30 anos no espaço, e continuam a transmitir dados científicos para a Terra,enquanto se aproximam dos limites do Sistema Solar, após o glorioso “Grand Tour” pelos quatro gigantes gasosos (Júpiter, Saturno, Urano e Netuno) . Como estas sondas iriam sair do Sistema Solar, a NASA designou os astrônomos Carl Sagan (autor dos best Sellers “Cosmos” e “Pálido Ponto Azul” e Frank Drake (idealizador do Projeto SETI, que busca por vida inteligente no universo através de sinais de rádio) para produzirem uma mensagem que representaria a humanidade como um todo, em um LP banhado a ouro, destinada a alguma inteligência alienígena que possivelmente interceptar alguma das duas sondas. Embora a probabilidade que isto realmente ocorra seja astronomicamente baixa, ela tornou-se um importante ícone cultural do século XX, uma versão cósmica da mensagem na garrafa dos náufragos.
A Trama do primeiro longa-metragem da franquia (Star Trek-The Motion Picture) explora a idéia do que ocorreria se uma raça alienígena encontrasse a Terra por meio do disco dourado da “V’Ger”).
Ed Stone, cientista-chefe do projeto Voyager e ex-diretor da JPL, explica que mesmo que a mensagem não seja encontrada, a gravação tem um importante significado para nós mesmos.
“De certa forma , é uma mensagem unificadora. É uma mensagem da Terra. Contém saudações em vários idiomas, musicas de várias culturas e épocas, e imagens que retratam o nosso planeta natal. É a nossa tentativa de dizer o quê é a Terra e o quê achamos que nós somos.”
Conforme Ann Druyan, diretora artística do projeto e posteriormente esposa de Carl Sagan a combinação entre ciência e arte foi uma razão especialmente motivadora para dedicar-se com tanta energia ao projeto da mensagem.
“ A mensagem representa a idéia que a ciência e a tecnologia podem ser unidas a arte. Esta uma das poucas historias totalmente grandiosas que temos sobre a humanidade. Custou virtualmente nada aos contribuintes e ninguém teve que morrer. Era uma forma de celebrar a gloria de estarmos vivos no ano de 1977. Foi o mais romântico e belo projeto realizado pela NASA. Tem o som de uma mãe beijando o filho recém-nascido, toda aquela música maravilhosa, de cânticos tribais ao Rock n´roll. Lembrem-se que isso foi na época da Guerra Fria, todos sabiam que 50.000 bombas atômicas poderiam destruir tudo a qualquer hora, e havia muita angustia em relação ao futuro. Isto era algo positivo, uma maneira de representar a Terra em seu melhor. Isto era irresistível.”O enteado de Ann Druyan e filho de Carl Sagan, Nick, tinha na época seis anos de idade. A mensagem possui uma gravação da sua voz dizendo “Hello from children of Planet Earth.” ( Saudações das crianças do planeta Terra). “Eu não percebia a magnitude daquilo na época. Literalmente meus pais colocaram um microfone na minha frente e disseram: O quê você diria aos extraterrestres.”
Sagan diz que só começou a perceber o que significava aquilo na adolescência com uma “Estranha porém maravilhosa honra.” “ Tem sido um desafio para o resto da minha vida viver carregando esta honra. Ela está sempre em meu subconsciente. Meu pai inspirou tantas pessoas a fazer muitas coisas maravilhosas como não julgar as coisas pela aparência e analisar as evidencias para buscar a verdade. Isto é algo que considero como um farol.”
Sagan comenta que ele e seu pai discutiam as descobertas das Voyagers no contexto da busca por vida extraterrestre. Eles ficaram animados quando as espaçonaves fotografaram Titã e Europa, mas Nick percebeu uma mudança em seu pai nos anos seguintes.
“Uma das coisas que surpreendeu ele foi o fato de que nós não encontraríamos vida extraterrestre durante sua vida. Então ele percebeu que se não houver outras formas de vida lá fora ou se a vida for tão rara, nós precisamos se proteger eu vi uma mudança nele, ele começou a tornar-se mais ativo social e politicamente, especialmente em questões como Aquecimento Global e Armas Nucleares.”
O filho de Carl Sagan acredita que a Voyager e outras missões espaciais são importantes mais por causa de seu processo do que pelas suas descobertas.” A questão é: O quê isto tudo significa? Se nós encontrarmos a vida no universo isso vai nos mudar, mas se não encontrarmos também vai nos mudar. O ato de estarmos procurando vai nos contar muito e aprenderemos tanto sobre nós mesmos.”
Nick Sagan seguiu parcialmente a carreira de seu pai, tornando-se escritor de ficção cientifica. Seus principais trabalhos foram como roteirista dos episódios “In the Flesh”, “Gravity”, “Course:Oblivion”, “Juggernaut” e “Relativity” na Série Star Trek Voyager. Ele é um elo vivo entre a ciência e a arte, entre a Ficção científica e os fatos científicos, entre Star Trek e a NASA e entre as Sagas das Sondas Voyager e da U.S.S Voyager.